Texto de Monika Von Koss, retirado do livro:  
Rubra Força: Fluxos do Poder Feminino.

Diz a sabedoria ancestral chinesa que para sermos felizes devemos fluir com o Tao, sermos como um rio em contínuo movimento e em constante mudança.

O fluir é algo que as mulheres experimentam a intervalos regulares – algumas vezes não tão regulares – quando vertem sangue durante suas regras. Curiosamente, não declinamos o verbo fluir na primeira pessoa. Dizemos que nosso sangue flui, mas soa estranho afirmar “Eu fluo”! Como então expressar essa experiência das mulheres? Quando entro em contato profundo com a menstruação, sou eu quem flui, torno-me fluida, torno-me o fluxo, e levo tudo comigo neste fluir. Posso experimentá-lo como uma cachoeira ou um regato que me purifica, renova, revigora. Ou posso vivê-lo como uma avalanche, uma enxurrada, algo que leva consigo tudo que encontra pelo caminho.

Qualquer que seja o modo como experimentamos nosso sangrar, quando o sangue flui abre-se um canal energético de comunicação com o mundo profundo. É um caminho que as mulheres percorrem regularmente, tornando-as mais sintonizadas com os eventos inconscientes, desde que não estejam conectadas com o medo que vem associado com este caminho , medo oriundo não do fluir em si, mas das conseqüências que este fluir pode trazer  e trouxe, ao longo do processo de patriarcalização, com o submentimento da percepção intuitiva a um saber puramente racional, um poder que prioriza a luz acima da escuridão, que prioriza o claro acima do escuro, que prioriza o linear acima o cíclico.


O que caracteriza o sangrar da mulher é sua ciclicidade. Um conjunto de eventos fisiológicos que iniciam e terminam em um mesmo acontecimento: o fluxo sangüíneo, a menstruação retorna regularmente, como as estações. Nessa sua regularidade, ela está associada como o primeiro contar do tempo, seja o tempo da coleta e da caça, seja o tempo da semeadoura e da colheita, seja o tempo da procriação e da gestação. E assim como o tempo, está também intimamente conectada com a lua, a cujo movimento cíclico respondem os oceanos, o ritmo cardíaco e o próprio pulsar da vida, em seu movimento de expansão e contração.


Como a trajetória da lua, o ciclo da mulher é um movimento contínuo que, em dado momento, interioriza-se, oculta-se, e em outro manifesta-se, explicita-se. A fecundidade feminina atinge seu pico no momento da ovulação, quando, oculto no interior do corpo da mulher, o óvulo deixa seu casulo e inicia sua jornada para a vida. Sob determinadas circunstâncias, ele se acomoda na parede uterina e se desenvolve pelo período de nove luas, para surgir como um novo ser. Ou então ele se desprende ainda no mesmo ciclo lunar e escorre junto com o fluxo menstrual.


Seja no parto, seja na menstruação, é no momento da passagem quando deixa o interior do corpo da mulher e se manifesta no mundo exterior, que o poder contido no fluxo sangüíneo lança a mulher numa condição liminar, em que vida e morte, consciente e inconsciente se tocam. Nesses momentos, o véu que separa os mundos é muito tênue, muito sutil, possibilitando sua transposição. Por essa razão, as xamãs precipitam sua menstruação antes de iniciar um trabalho poderoso. Pela mesma razão, as profetas e sibilas da Antiguidade Clássica eram jovens mulheres menstruando. As mulheres exerciam essa disciplina biomística que tinha por objetivo canalizar e direcionar o real poder do universo, “pois ele emana dos nossos próprios corpos e processos psíquicos.” (...)

O período menstrual é o momento em que podemos aprender mais a nosso respeito e curar nossas feridas. Assim reverenciada, a arte de menstruar pode ser recuperada, possibilitando uma vida mais plena e feliz como mulher.
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