(Elsa Cross)

Saio de ti como tua sombra.
Dou voltas em torno de ti,
dançando em silêncio.
Te espreito
nas margens de tesus pensamentos,
te sigo em teus atos, invisível,
dou forma a teus desejos.

Sou a forma de todos os seus desejos.
Sou a água do rio transparente,
onde tu sonhas levado pela morte,
sou as pedras azuis no fundo
visitadas pelos raios do sol
- como peixes dourados embaixo das águas.
Sou a pedra sem tempo no jardim,
a pedra gris do muro
onde repetem pedras ao alto.
Pedra, pedra
serpente,
ruído de água que cai, peixe silencioso,
bruma coroando ao longe as montanhas.

Sou o sol em teus cabelos,
um pássaro em uma copa,
a água que bebes ao despertar.
Sou o néctar caindo em tua língua,
sou teu deleite, sou tua embriaguez.

Volto a ti quando me chamas, desapareço.
Em ti permaneço dissolta, consciência irreflexa, prazer vivo.
E de novo a expansão sem limites
desde ti, fora de ti me leva.
Transpasso as formas.
Livre estou no espaço, sem espaço.

Em espaço mesmo me convertes.
Vou até todos os pontos
cujos centros são um, cujo centro
eu mesma sou.
Marco os confins,
ponho regras ao jogo, me divirto,
me divido, me dissolvo.
Sou só emanação.
Sou vibração pura, som que se condensa e cria formas.
Sou a flecha do impulso, o movimento,
o sopro.
Sou a forma oval perfeita,
as substâncias que se nutrem mutuamente, o pequeno espiral,
a mais pequena partícula
ditando a leitura de sua própria forma,
escrevendo de imediato, por si mesma,
sob o auspício silencioso deste jogo.

E tu és todas as coisas
sem deixar o recinto ensimesmado,
secreto onde não nos separa todavia teu pensamento,
onde o impulso em si mesmo se cumpre,
é somente, antes do tempo, antes do som,
da palavra mesma com que agora
nos invocam, nos dizem, nos perguntam.



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